quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pensar ou não pensar

“Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez, por isso, tão poucos se dediquem a ele.”
(Henry Ford)


Olá, caro leitor. Um dia desses, um grande amigo tinha uma série de provas na faculdade e me disse ser o 'rei' da matéria cujo teste seria aplicado no dia seguinte. Após tal teste, comunicou-me não haver logrado êxito. Indaguei-o sobre a razão de ter falhado se me dissera ser o 'rei'. Então, me respondeu que era o 'rei' de um exercício específico e ele não estava na prova. Conto este caso particular, contando com o teu perdão, nobre leitor, para ilustrar o assunto de hoje. Vou dar o prosseguimento lógico à argumentação seguinte.
Muito me preocupa ver nossas crianças sendo conduzidas à repetição hoje em dia, além da grande preocupação apenas com o fim do planejamento anual dos componentes curriculares. Mais do que saber somar ou dividir números complexos, é importante que saibamos o que significa somar, dividir, ou seja, que dominemos o elementar, pensemos sobre ele e produzamos a partir do mesmo. O que menos se faz nas escolas é pensar. Ora, o filósofo já havia estabelecido: “Penso, logo existo”. O ato da reflexão foi abolido do ensino, abolido das universidades, estabelecendo o ciclo vicioso: o não-pensar escolar forma professores não-pensantes e não-filósofos o que, por sua vez, reflete o não-pensamento aos futuros alunos e assim por diante.
Erasmo de Rotterdam diz, em seu 'Elogio à Loucura' (uma indicação particular à tua leitura), que “as palavras são imagem sincera do pensamento”. Ora, se não há pensamento, então as palavras refratam, tornam-se turvas. Isto é, se transformam em 'retórica do nada'. Não quero aqui, meu caro, ser um intelectualóide que disserta sobre um assunto sem razão de ser. Pelo contrário, quero exortá-lo a pensar, a refletir sobre os resmungos aqui declinados.
Voltando à educação, o que mais me preocupa é a plena crença de alguns (ou muitos) em índices internacionais e nacionais maquilados, políticos, visando o controle do desgaste, que não levam em conta o poder de reflexão e de pensamento de nossas crianças, de nossos jovens. Para consolidar o Estado do Bem – Estar Social, caro leitor, precisamos refletir, pensar, pra podermos cobrar das autoridades competentes migrando de 'massa de manobra' para 'população consciente'.
Ainda em prol do pensamento livre, precisamos de mídia livre. Há um levante governamental (que ouso chamar de “modinha de uma falsa esquerda”) para cerceamento da mídia livre e, principalmente, da internet. Ora, a Web é livre por essência, assim nasceu, assim o é. Há que se regular mídia e web atualizando a legislação, já que a nossa é arcaica e ultrapassada, mas não podemos confundir censura com regulação. Além disso, não se pode aceitar 'esmolas' do poder de modo a moderar nos questionamentos e cobranças. Não temos jornais hoje, temos braços não-oficiais da mídia do governo, recebendo grande somas de dinheiro para calar as opiniões do poder em nós. Dinheiro cega o entendimento, freia o pensamento livre, condiciona a opinião.
Concluindo, precisamos realizar um grande 'big break' com esta cultura do não-pensamento. Há que se aproximar a comunidade da escola que, por sua vez, deve ser um ser independente e pensante. Temos de formar professores, filósofos, pensadores, cientistas e não meros 'reprodutores de informação', um prompter humano (ou não). Necessitamos de garantias expressas e plenas de imprensa livre, atuante, “longe das benesses do poder”, como diria o saudoso ex-governador de São Paulo Franco Montoro. Nossa sociedade deve se render e aprender com o 'porquê?' das crianças, ou seja, deveremos ser como nobres e ingênuos infantes novamente, instigados por descobrir cada centímetro da infinito e insondável universo do ser.

Felipe Fidalgo, 23, licenciado em Matemática pela FEIS – UNESP, mestrando em Matemática Aplicada pelo IMECC – UNICAMP. Atual presidente da Juventude do PSDB de Andradina.
( felipefidalgo@ime.unicamp.br / www.twitter.com/FelipeFidalgo45 )

Um comentário:

  1. Gostei desse artigo Felipe. Infelizmente no Brasil saber interpretar um texto e fazer regra de três composta é algo demasiadamente complexo para grande parcela de nossa população.
    Quem dirá pensar!
    Ao invés de agregar matérias esdrúxulas ao curriculo escolar como muitos dos nobres Deputados defendem deveriamos fazer os alunos "Pensar" e aprender as que já existem.

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