Olá, caro leitor! Assistir ao Big Brother Brasil é sempre terrível para mim. Muitos dizem que é uma experiência maravilhosa com seres humanos, outros acreditam que é uma boa maneira de se tornar um milionário. Agora, uma certa parcela da população brasileira, na qual eu me incluo, acredita que tal programa não é, nem de longe, um reality show, como é chamado, já que se afasta da realidade por completo. Mas esta não é a questão deste artigo.
Durante o intervalo comercial na Rede Globo, havia um repórter que entrevistava as pessoas, querendo saber o que estavam achando do programa e dos temas que lá eram debatidos entre os internos. Me deparei com algo que me interessou: certa moça disse querer que um dos participantes, chamado Carlos Eduardo, o Cadu, fosse o campeão pois ele era fiel, já que havia “deixado alguém fora da casa” e não se relacionara com ninguém durante o programa.
Foi inevitável ficar pensando naquele fato: por que a fidelidade é tão exaltada em nossos dias, já que ela deveria ser obrigação de cada cidadão?
Fidelidade é uma qualidade que sempre está em debate: debatemos a fidelidade nos relacionamentos (inclusive com estudos científicos que visam entender a infidelidade conjugal), a fidelidade político-partidária, a fidelidade a um ideal ou a uma teoria. As produções cinematográficas, as novelas, os livros trazem exemplos de infidelidade e fidelidade. Um grande exemplo que temos em nossa literatura é a discussão que Machado de Assis suscita, até hoje, em todos nós: Capitu, traiu ou não? Associamos até os animais a tal qualidade dizendo, por exemplo, que a fidelidade do cão o torna nosso melhor amigo. Enfim, tal tema é recorrente nas discussões que fazemos, que ouvimos ou lemos. Alguns pontos que podemos nos concentrar para responder essa pergunta:
Primeiro, a fidelidade pode não ser uma das qualidades que mais buscamos aperfeiçoar na construção de nosso caráter. Muitas das qualidades que temos advêm de nossa formação pessoal: desde bebês estamos expostos a uma pluralidade de situações que as revelam, sendo elas boas ou más. Mesmo não sendo algo benéfico para nossa formação, presenciamos cenas e discussões que nos marcam ad eternum e nos fazem encarar algumas situações conflitantes com frieza e naturalidade, como a traição conjugal. Não podemos esquecer de patologias psicológicas que possam conduzir a esta conduta.
Segundo, tratamos a fidelidade como um tema distante, possuído por um grupo seleto, os fiéis (sem fazer qualquer menção religiosa). Quantas vezes procuramos pensar sobre o que nos levaria a sermos ou não fiéis a alguém ou a algo? Entretanto, pensamos nos bons motivos que nos levam a buscar desenfreadamente o dinheiro e a ascensão social, sem nem nos preocuparmos se estamos passando por cima de todos os adjetivos que consideramos “moralmente válidos”, como a fidelidade. Ou seja, a fidelidade é uma das qualidades mais pisoteadas, enforcadas, cuspidas, guilhotinadas e assassinadas pela humanidade.
Acredito que o modo correto não é procurar fiéis, mas, sim, buscar aperfeiçoar a nossa fidelidade, nos possibilitando reconhecer os infiéis, a priori, sabendo que os outros dividem conosco a tão almejada fidelidade. Desse modo, devemos deixar claro o quanto queremos que a fidelidade seja algo natural de nossa geração e não algo a ser exaltado e que, pelo contrário, o que deve ser permanentemente combatido é a infidelidade.
Por fim, pensar em fidelidade me faz pensar na mítica cena romana em que Júlio César, ao ser golpeado para a morte, diz a seu antigo protegido, o senador Marco Júnio Bruto: “Et tu, Brute?”.
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Felipe Delfini Caetano Fidalgo é licenciado em Matemática pela FEIS – UNESP, mestrando em Matemática Aplicada pelo IMECC – UNICAMP e pertence à Juventude do PSDB de Andradina.
E-mail: felipefidalgo@ime.unicamp.br - Twitter: http://www.twitter.com/FidalgoFelipe
Artigo publicado em O Jornal da Região de Andradina/SP no dia 14/04/2010.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
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